Yellowjackets: ninguém está seguro neste thriller selvagem e alucinante

Em uma história sobre adolescentes perdidas na natureza brutal do Canadá, era inevitável que o caos emergisse. Desde o primeiro episódio de Yellowjackets, da Showtime, sabíamos que a insanidade nos espreitava. A trama, que alterna entre duas linhas temporais, já abre com uma perseguição frenética na floresta coberta de neve, culminando em uma cena de canibalismo chocante — deixando claro que esse drama é mais do que uma simples história de sobrevivência. É uma versão feminina, intensa e brutal de O Senhor das Moscas, com adição de psicologia sombria, rituais tribais e uma lenta desconstrução da moralidade.

Temporadas

Com três temporadas completas e pelo menos mais duas a caminho, a série Yellowjackets já estabeleceu algumas das cenas mais arrepiantes da televisão moderna. A queda do avião é apenas o início de um inferno crescente. O treinador Scott (Steven Krueger), única figura adulta entre as adolescentes, torna-se símbolo da ordem prestes a ser esmagada. Após perder uma perna e ficar dependente da sinistra e obsessiva Misty (Samantha Hanratty), ele vê seu mundo ruir quando se recusa a compactuar com o canibalismo do grupo. Sua lenta decadência culmina numa morte torturante, marcada por sofrimento físico e psicológico, em uma das sequências mais perturbadoras da série.

A instabilidade mental de Taissa (interpretada por Tawny Cypress e Jasmin Savoy Brown) é outro fio condutor de tensão. Ela vivencia alucinações com figuras assustadoras, sonambulismo violento e, em um dos momentos mais brutais da série, sacrifica o próprio cachorro — um ato que ecoa o terror e o desequilíbrio emocional de sua personagem tanto na adolescência quanto na fase adulta.

A violência simbólica e literal de Yellowjackets se manifesta também nas relações entre as garotas. Um dos exemplos mais cruéis é o arco de Shauna (Sophie Nélisse e Melanie Lynskey), que cresce de uma adolescente introvertida à impiedosa Rainha dos Chifres. Após perder sua melhor amiga e seu bebê, Shauna mergulha em uma espiral de raiva e brutalidade. Em uma cena visceral, ela espanca Lottie (Courtney Eaton) quase até a morte como forma de catarse emocional, num momento coreografado com uma trilha sonora nostálgica que contrasta tragicamente com a selvageria.

Os rituais canibais se tornam cada vez mais ritualísticos e bizarros. Em certo ponto, cientistas que acidentalmente encontram o grupo servem como lembrete cruel do mundo civilizado, apenas para serem brutalmente assassinados por Lottie, que já vê a floresta como sua casa espiritual. Uma das mortes mais grotescas acontece quando a cabeça de um dos cientistas é esmagada e seu cérebro exposto é saboreado em um ritual sangrento — um dos momentos mais sangrentos de toda a série.

A linha do tempo adolescente é repleta de provações extremas. Misty, obcecada por controle, droga o grupo inteiro com cogumelos durante um baile improvisado, o “Doomcoming”. Sob efeito dos alucinógenos, as garotas quase matam Travis, irmão mais velho de Javi (Luciano Leroux), tratando-o como caça. A cena, filmada com distorções surreais, coloca em cheque os limites da sanidade e da moralidade em um ambiente onde o instinto de sobrevivência reina absoluto.

Javi, símbolo de inocência, tem um fim trágico ao tentar salvar Nat da morte certa. Sua queda em um lago congelado e o subsequente abandono pelo grupo demonstram o quanto o comportamento das meninas foi corrompido pela selva e pelo desespero. A indiferença com que ele é deixado afundar nas águas geladas — e depois resgatado apenas para virar refeição — é um dos momentos mais frios e impactantes da narrativa.

Entre as cenas mais dolorosas está o parto traumático de Shauna. Em condições desumanas, dentro de uma cabana gelada e sem auxílio médico, ela dá à luz — apenas para descobrir que seu bebê não sobreviveu. A atuação crua de Sophie Nélisse e os gritos angustiantes de Shauna evocam uma dor real e devastadora. Embora a série não tenha seguido a teoria dos fãs sobre o consumo do bebê, a perda ainda se torna o estopim para a transformação de Shauna em uma figura sombria e dominadora.

O episódio final da terceira temporada traz a tão esperada revelação sobre a “Pit Girl” do piloto: trata-se de Mari. Sua morte, causada por uma armadilha planejada para Lottie, é um retrato simbólico do ápice do horror tribal. Caçada, despida e pendurada como um animal sacrificial, Mari representa o ponto sem retorno das Yellowjackets. A cena em que Shauna reivindica um pedaço de seu cabelo como troféu personifica a total desumanização entre as garotas, que agora operam sob uma lógica de culto sanguinário.

Desde o início, o conflito entre Shauna e Jackie alimenta a tensão da primeira temporada. A amizade envenenada entre as duas atinge seu clímax em uma briga fatal, onde Jackie acaba do lado de fora da cabana e morre congelada. O grito de desespero de Shauna ao encontrar o corpo gelado da amiga é tão doloroso quanto simbólico — marcando o ponto de ruptura definitivo entre a civilização e a barbárie.

Yellowjackets é mais do que uma série sobre sobrevivência. É um mergulho visceral no que há de mais primitivo e obscuro na mente humana. Seus episódios revelam, camada por camada, a degradação moral, os traumas persistentes e os limites tênues entre instinto e loucura. O que aconteceu naquela floresta moldou para sempre as jovens sobreviventes, e o que ainda está por vir promete ser tão perturbador quanto revelador.

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