Atenção: este texto contém spoilers importantes de The Last of Us – Segunda Temporada Prossiga apenas se já assistiu ou se não se importa com revelações sobre a trama.

Após o estrondoso sucesso da primeira temporada, que conquistou público e crítica com uma adaptação fiel e emocionante do jogo homônimo da Naughty Dog, a segunda temporada de The Last of Us, exibida pela HBO, retorna ainda mais ousada, violenta e emocionalmente devastadora. Adaptando os eventos do jogo “The Last of Us Part II”, a nova temporada não apenas eleva o nível técnico da produção, mas também se arrisca em escolhas narrativas que certamente dividirão opiniões.
Narrativa fragmentada e corajosa
Desde o início, a segunda temporada adota uma estrutura narrativa mais complexa, fragmentada e com múltiplos pontos de vista. O maior destaque, sem dúvida, é a introdução da personagem Abby Anderson, interpretada com intensidade e profundidade por Kaitlyn Dever (ou outra atriz escolhida, conforme elenco oficial). A decisão dos showrunners, Craig Mazin e Neil Druckmann, de humanizar Abby e explorar sua trajetória paralelamente à de Ellie (Bella Ramsey) é um dos pontos mais ambiciosos da temporada.
Logo nos episódios iniciais, temos a fatídica e brutal cena da morte de Joel (Pedro Pascal), que, fiel ao jogo, acontece de maneira chocante e súbita. O impacto é devastador, tanto para Ellie quanto para os espectadores, e funciona como o catalisador de toda a temporada. A série não hesita em expor a violência nua e crua, mas sempre com uma perspectiva emocional e reflexiva.
Essa escolha de narrativa não-linear, intercalando flashbacks, novas personagens e pontos de vista, é corajosa, mas pode causar estranhamento para quem espera uma sequência tradicional ou uma simples “continuação” da história de Ellie e Joel.
Atuações impecáveis
Se na primeira temporada Bella Ramsey já demonstrava uma impressionante evolução como Ellie, nesta segunda ela entrega uma performance ainda mais visceral, explorando nuances de dor, raiva, culpa e, eventualmente, redenção. Sua transformação de uma adolescente assustada para uma figura implacável e consumida pela vingança é dolorosa de assistir, mas absolutamente necessária para o desenvolvimento da personagem.
Outro destaque é a atuação de Kaitlyn Dever como Abby, que consegue transmitir tanto a força física quanto a vulnerabilidade emocional de sua personagem. O público é forçado a confrontar seus próprios julgamentos à medida que conhece melhor Abby e entende seus motivos, promovendo um debate sobre moralidade, vingança e empatia.
A direção e a produção continuam impecáveis
Tecnicamente, The Last of Us – Segunda Temporada mantém o altíssimo padrão estabelecido pela HBO. A fotografia é belíssima, especialmente nas cenas que exploram a natureza devastada e os espaços urbanos tomados pela vegetação. A direção de arte e os efeitos práticos nos infectados continuam sendo um espetáculo à parte, com destaque para a introdução do Shambler e do temido Rattler.
A trilha sonora, novamente sob a batuta de Gustavo Santaolalla, pontua com sensibilidade os momentos mais íntimos e os mais tensos, criando uma atmosfera constante de melancolia e tensão.
O ritmo e as escolhas narrativas podem afastar parte do público
Apesar de todas as qualidades, a segunda temporada não está isenta de críticas. O ritmo mais lento, especialmente em episódios dedicados inteiramente à trajetória de Abby, pode afastar quem espera uma narrativa centrada apenas em Ellie. Além disso, a decisão de não apresentar um vilão claro, mas sim múltiplas perspectivas humanas e falhas, pode ser frustrante para quem prefere uma divisão mais clássica entre “bem” e “mal”.
Alguns fãs também criticaram a ausência de mais cenas de ação envolvendo os infectados. De fato, a temporada opta por um foco mais dramático e introspectivo, priorizando os conflitos humanos e relegando os infectados a coadjuvantes na maioria dos episódios. Para quem esperava mais cenas de tensão e horror como na primeira temporada, esse pode ser um ponto negativo.
Temas maduros e uma adaptação fiel, mas com personalidade
Assim como o jogo original, a segunda temporada aborda temas complexos, como o ciclo da violência, a perda, o luto e a difícil escolha entre a vingança e o perdão. A série faz isso com maestria, sem simplificar ou diluir o impacto emocional da trama.
Embora seja uma adaptação bastante fiel, a série também se permite explorar novas cenas e aprofundar personagens secundários, como Dina, Jesse e Lev, enriquecendo ainda mais o universo da obra. A relação entre Ellie e Dina é tratada com respeito, sensibilidade e naturalidade, sendo um dos pontos altos da temporada.
Conclusão: uma temporada arriscada e necessária
The Last of Us – Segunda Temporada não é apenas uma sequência; é uma desconstrução e uma expansão do que conhecemos sobre esse universo e seus personagens. É uma temporada mais sombria, mais madura e mais provocativa do que a primeira. Pode não agradar a todos, especialmente os que procuram uma narrativa mais linear ou com resoluções fáceis, mas é inegável sua qualidade artística e a coragem de seus criadores.
Com atuações memoráveis, uma produção impecável e uma narrativa que promove reflexões profundas sobre moralidade e humanidade, a segunda temporada de The Last of Us reafirma a série como uma das melhores adaptações de videogame para a televisão.
Se a primeira temporada era sobre amor e sobrevivência, esta segunda é sobre perda e as consequências de nossas escolhas. E, para o bem ou para o mal, deixa o espectador emocionalmente abalado e ansioso pelo que ainda está por vir.