A Hora do Mal: Será Este o Melhor Filme de Terror do Ano?

O cinema de terror tem experimentado uma renovação nos últimos anos, com produções que vão além do susto fácil e investem em tensão psicológica, crítica social e uma narrativa mais elaborada. “A Hora do Mal” (título brasileiro para Weapons, de Zach Cregger) é um exemplo marcante dessa nova safra. Carregado de camadas simbólicas e narrativas fragmentadas, o filme se impõe não apenas como entretenimento, mas como um espelho sombrio da sociedade americana — e talvez por isso seja, sim, um forte candidato a melhor terror do ano.

A trama gira em torno de Justine Gandy (Julia Garner), uma professora de uma pacata escola do ensino fundamental, cuja vida vira de cabeça para baixo quando todas as crianças da sua turma desaparecem misteriosamente às 2h17 da manhã. O horário exato, usado como título nacional do longa, já indica que algo muito específico — e profundamente perturbador — está em jogo. A escolha do título original, Weapons, revela mais sobre o cerne da história: este é um filme sobre violência, e não qualquer tipo, mas uma violência estrutural, cultural, quase invisível, que se alastra pelo cotidiano suburbano americano como um câncer silencioso.

Cregger, que já havia surpreendido com Noites Brutais (2022), retoma aqui sua habilidade em brincar com a estrutura narrativa, alternando perspectivas, saltando no tempo e revelando as peças do quebra-cabeça aos poucos. Além de Justine, acompanhamos personagens como Archer (Josh Brolin), pai de um dos alunos desaparecidos; o policial Paul (Alden Ehrenreich); o morador de rua James (Austin Abrams); o diretor escolar Marcus (Benedict Wong); e o enigmático menino Alex Lilly (Cary Christopher), cuja relação com os eventos da noite fatídica permanece envolta em mistério. Todos são arrastados para o vórtice sombrio de uma história que parece saída diretamente das páginas de Stephen King — com ecos claros de It e O Iluminado.

Mas engana-se quem espera um terror tradicional. A Hora do Mal se destaca por sua atmosfera densa, onde o medo nasce mais da inquietação moral e espiritual do que de sustos fáceis. É o desconforto diante daquilo que não pode ser nomeado — mas que sentimos pulsando por trás de cada cortina, de cada cerca branca do subúrbio. A cidade fictícia de Maybrook, com sua fachada tranquila, é o palco perfeito para expor uma sociedade marcada por desconfiança, individualismo e paranoia. Câmeras de segurança vigiam tudo, mas não veem nada. Policiais armados esperam pelo menor sinal de ameaça. Pais desesperados se transformam em juízes, carrascos e, eventualmente, vítimas do próprio sistema que ajudaram a construir.

Cregger injeta doses bem dosadas de humor bizarro, como na atuação memorável de Amy Madigan, que adiciona uma camada tragicômica à tensão crescente. Esse contraste entre o absurdo e o terror é manejado com precisão, e serve como válvula de escape para o espectador, sem nunca diluir o peso emocional da narrativa. O maior trunfo do diretor, no entanto, está no desenvolvimento de seus personagens. Ao invés de meros arquétipos descartáveis — tão comuns no gênero —, cada figura possui dilemas próprios, falhas, histórias mal resolvidas. Isso torna o drama ainda mais palpável, e o desfecho mais impactante.

Julia Garner brilha como a protagonista cercada de mistérios e culpas não reveladas. Josh Brolin entrega uma performance contida e carregada de tensão, enquanto Alden Ehrenreich surpreende com um papel mais emocionalmente intenso do que o habitual. A química entre o elenco, somada à direção segura de Cregger, cria uma experiência cinematográfica envolvente, que instiga o público a montar o quebra-cabeça junto com os personagens.

O grande clímax de A Hora do Mal merece destaque à parte. Após mais de duas horas de construção cuidadosa, o filme entrega um final catártico, violento e surpreendente, onde a tensão acumulada finalmente explode em uma sequência brutal e estilizada, que funciona tanto como metáfora quanto como liberação emocional. É o tipo de final que permanece com o espectador — incômodo, imprevisível e essencial para o impacto completo da obra.

Conclusão Crítica

Será A Hora do Mal o melhor filme de terror do ano? Há fortes argumentos para dizer que sim. O longa de Zach Cregger não apenas domina as ferramentas do gênero, como as utiliza para fazer comentários profundos sobre a sociedade contemporânea. Ao abordar temas como violência estrutural, colapso moral e o desespero da classe média americana, ele se posiciona além do mero susto: é cinema de terror com propósito. A Hora do Mal é, acima de tudo, um grito abafado por trás de portas trancadas — um lembrete de que o verdadeiro horror muitas vezes se esconde dentro das próprias casas.

Se o que você busca é um terror que desafia, provoca e permanece com você muito depois dos créditos finais, então A Hora do Mal é não só uma das melhores experiências do gênero em 2025, como também um dos filmes mais relevantes do ano.

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