Clima esquenta na Câmara de SP: vereador Lucas Pavanato e presidente do Sindimoto protagonizam troca de empurrões durante audiência sobre motos por aplicativo

A tarde desta quinta-feira (29) foi marcada por tensão e confusão na Câmara Municipal de São Paulo, durante uma audiência pública que discutia a regulamentação do serviço de transporte de passageiros e entregas por meio de motocicletas, os chamados “moto por aplicativo”. O embate mais acalorado ocorreu entre o vereador Lucas Pavanato (PL) e Gilberto Almeida dos Santos, conhecido como “Gil”, presidente do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas de São Paulo (Sindimoto-SP). Ambos acabaram se desentendendo fisicamente, trocando empurrões e sendo conduzidos à delegacia para registro de ocorrência.
A confusão teve início quando o vereador Pavanato, ao se pronunciar, referiu-se ao sindicalista como “pelego” — termo pejorativo utilizado para designar lideranças sindicais vistas como submissas aos interesses patronais. A provocação acirrou os ânimos: Gil, que estava presente no plenário, dirigiu-se até a tribuna e agarrou Pavanato pelo colarinho. O gesto gerou um tumulto generalizado, com seguranças da Câmara e membros da equipe do vereador intervindo para apartar os envolvidos.
O clima ficou ainda mais tenso com o empurra-empurra, que rapidamente ganhou notoriedade nas redes sociais. Após o episódio, ambos se dirigiram à 1ª Delegacia de Polícia, no bairro da Liberdade, para registrar boletins de ocorrência. Em nota oficial, o Sindimoto-SP informou que seu presidente prestou queixa contra o vereador por difamação, calúnia e agressão física.
Audiência pública já estava marcada por tensão
O debate, conduzido pela vereadora Renata Falzoni (PSB), transcorreu sob clima de animosidade desde o início. Antes mesmo do confronto físico, motociclistas presentes à audiência já se manifestavam com vaias e interrupções, especialmente durante a fala de Gil, o que levou Falzoni a ameaçar retirar participantes do plenário para garantir a ordem e continuidade dos trabalhos.
Outro momento de tensão ocorreu durante o pronunciamento da vereadora Keit Lima (PSOL), defensora da regulamentação do serviço de moto por aplicativo. Em sua fala, Keit criticou o prefeito Ricardo Nunes (MDB), chamando-o de “prefeitinho” por, segundo ela, se posicionar contra a legalização do serviço. A expressão gerou burburinho entre os presentes, mas a vereadora exigiu respeito à sua fala.
Mobilização do lado de fora e polêmica com empresas
Enquanto o debate esquentava dentro da Câmara, do lado de fora diversos grupos de motociclistas também realizavam manifestações. Entre eles estavam representantes do Sindimoto-SP, da AMABR (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil) e do movimento JR Freitas SP Motociclistas. A mobilização demonstrou a diversidade de interesses e opiniões dentro da própria categoria.
Um ponto que gerou polêmica foi a informação de que alguns motociclistas teriam recebido o valor de R$ 250 da empresa 99, uma das principais plataformas de transporte por aplicativo, para participar da audiência pública. A empresa, no entanto, não se manifestou oficialmente sobre o caso até o momento.
Três projetos sobre regulamentação tramitam na Câmara
A audiência pública faz parte de uma série de encontros que discutem a regulamentação do serviço de moto por aplicativo na cidade de São Paulo. Atualmente, três projetos de lei sobre o tema tramitam simultaneamente na Câmara Municipal, representando diferentes correntes de pensamento.
O mais recente foi apresentado nesta mesma quinta-feira (29) pelas bancadas do PT e do PSOL. De autoria da vereadora Luna Zarattini (PT), a proposta busca regulamentar não apenas o transporte de passageiros por moto, mas também os serviços de entrega realizados por aplicativos, estabelecendo regras para a segurança dos trabalhadores e usuários.
Segundo o vereador Nabil Bonduki (PT), a proposta petista se diferencia dos demais textos em discussão. O projeto apresentado por Lucas Pavanato (PL) em parceria com Kenji Ito (Podemos) é criticado por setores da oposição por ser considerado uma “liberação geral” do serviço, com poucas restrições e quase nenhuma exigência para empresas e motociclistas. Já o projeto do vereador Marcelo Messias (MDB) é visto como excessivamente rigoroso, ao estabelecer metas de redução de acidentes consideradas por alguns como inviáveis para a categoria.
Próximos debates
A regulamentação do serviço de moto por aplicativo segue como tema central na agenda da Câmara Municipal de São Paulo. Estão previstas novas audiências públicas para os dias 5 e 12 de junho, com o objetivo de aprofundar a discussão, ouvir especialistas, representantes das empresas, motociclistas e outros atores envolvidos.
O episódio desta quinta-feira escancarou não apenas a divisão existente entre os vereadores e as lideranças sindicais, mas também os desafios que a cidade enfrenta para encontrar um modelo equilibrado de regulamentação para um serviço que cresce exponencialmente e impacta diretamente a mobilidade urbana, a segurança viária e as condições de trabalho de milhares de motociclistas paulistanos.