
Ednaldo Rodrigues é afastado da presidência da CBF novamente; Fernando Sarney assume como interventor e novas eleições são convocadas
Mais uma reviravolta política e jurídica agita os bastidores do futebol brasileiro. Nesta quinta-feira (15), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou o afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A decisão foi tomada pelo desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, que também nomeou Fernando Sarney — atual vice-presidente da entidade e figura ligada à oposição — como interventor responsável por conduzir novas eleições “o mais rapidamente possível”.
A justificativa para essa medida drástica gira em torno de suspeitas de irregularidades no processo que garantiu a permanência de Ednaldo no comando da CBF. Segundo o desembargador, há indícios sérios de falsificação na assinatura do ex-presidente da entidade, Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, em um acordo firmado no início do ano. Esse acordo encerrou uma ação judicial que questionava a validade do processo eleitoral da CBF e, na prática, pavimentou o caminho para que Ednaldo fosse reconduzido ao cargo em março.
A suposta fraude na assinatura ganhou peso com um laudo pericial que aponta que o documento não foi assinado por Nunes de forma legítima. Além disso, o próprio ex-presidente, por meio de seu advogado, afirmou estar com problemas de saúde e não compareceu à audiência marcada pelo TJ-RJ para esclarecer os fatos. Diante desse cenário, o desembargador decidiu pela nulidade do acordo judicial e, por consequência, pelo afastamento imediato de Ednaldo.
“Declaro nulo o acordo firmado entre as partes, homologado outrora pela Corte Superior, em razão da incapacidade mental e de possível falsificação da assinatura de um dos signatários, Antônio Carlos Nunes de Lima”, afirmou o magistrado em sua decisão.
A reação de Ednaldo não demorou. Ele estava em Assunção, no Paraguai, participando de um congresso da FIFA, quando foi notificado da decisão. Imediatamente, sua defesa entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF), tentando anular a decisão do TJ-RJ — a mesma estratégia usada em dezembro de 2023, quando ele também foi afastado e conseguiu retornar ao cargo pouco tempo depois, graças a uma decisão do ministro Gilmar Mendes.
Fernando Sarney, que assume interinamente a presidência, é filho do ex-presidente da República José Sarney e tem longa trajetória nos bastidores do futebol. Apesar de ser um dos vice-presidentes da CBF, rompeu politicamente com Ednaldo e não participou da chapa que garantiu a reeleição do dirigente em março. Agora, na condição de interventor, terá a responsabilidade de organizar novas eleições, o que pode redesenhar o futuro da entidade nos próximos anos.
A crise atual ganhou contornos mais tensos após dois pedidos recentes encaminhados ao STF pela deputada federal Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ) e pelo próprio Fernando Sarney. Ambos alegam que a assinatura do Coronel Nunes no documento que validou a eleição de Ednaldo foi falsificada, e que isso invalida todo o processo. O STF então decidiu enviar o caso de volta ao TJ-RJ para investigação imediata.
Vale lembrar que essa instabilidade acontece num momento em que a CBF tenta se reorganizar esportivamente e politicamente. Ednaldo vinha apostando em anúncios de impacto, como a contratação antecipada do técnico Carlo Ancelotti para assumir a Seleção Brasileira após a Copa América, mesmo sem a confirmação oficial do Real Madrid, atual clube do treinador. A estratégia era ganhar apoio público e tentar fortalecer sua posição dentro e fora da entidade.
Na última terça-feira (13), Ednaldo se reuniu com presidentes das federações estaduais na sede da CBF, no Rio de Janeiro, para apresentar sua defesa e mostrar confiança na permanência no cargo. Segundo fontes internas, o corpo jurídico da CBF acreditava ter respaldo legal suficiente para reverter uma possível derrota no TJ-RJ, apostando mais uma vez numa decisão favorável no STF.
Essa é a segunda vez em menos de um ano que o TJ-RJ determina o afastamento de Ednaldo. Em dezembro de 2023, o dirigente foi destituído pela Justiça, mas retornou semanas depois. Agora, o cenário se repete, mas com o agravante das denúncias de falsificação, o que eleva o nível de gravidade da situação.
Enquanto isso, o futuro da CBF segue incerto. O futebol brasileiro, que já enfrenta problemas técnicos dentro de campo, agora precisa lidar com mais uma crise institucional fora dele — uma verdadeira novela jurídica que está longe de terminar.