Thunderbolts – A Redenção dos Esquecidos da Marvel

A Marvel ainda tem algo a dizer
Nos últimos anos, acompanhar o Universo Cinematográfico da Marvel tem sido uma montanha-russa emocional. Entre altos e baixos, muitos fãs — inclusive eu — começaram a se perguntar se a fórmula ainda funcionava. Com tantos personagens, tramas paralelas e viagens no multiverso, parecia que a essência havia se perdido. Foi com esse sentimento de cansaço que entrei na sala de cinema para assistir Thunderbolts. Mas saí com algo que não sentia havia tempos: empolgação de verdade.
Heróis quebrados, histórias reais
Esqueça os super-heróis impecáveis. Thunderbolts nos apresenta um grupo de personagens que mais parecem sobreviventes do que salvadores. Liderados (mais ou menos) por Yelena Belova, interpretada brilhantemente por Florence Pugh, o time reúne Bucky Barnes, Red Guardian, Ghost, US Agent, Taskmaster e o novato Bob, vivido por Lewis Pullman.
O que eles têm em comum? Todos foram descartados, desacreditados ou simplesmente ignorados pelo sistema. E é justamente essa sensação de abandono que move o enredo. Eles não lutam por glória — lutam porque não têm mais para onde ir. E isso torna tudo mais interessante.
Jake Schreier, o diretor, foi ousado ao focar menos na ação e mais na dor, nas inseguranças e nos conflitos internos de cada personagem. Em um universo onde heróis voam, esse filme decide caminhar no chão — tropeçando, sangrando, mas seguindo em frente.
Uma missão como pano de fundo
A trama gira em torno de uma missão liderada por Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), que coloca o grupo em campo com objetivos um tanto duvidosos. Mas a verdade é que a missão em si é apenas um pretexto. O verdadeiro foco é o que acontece entre eles — e dentro deles — durante a jornada.
Florence Pugh entrega uma Yelena ainda mais complexa, misturando humor ácido com um olhar carregado de dor. Sebastian Stan, como Bucky, continua seu arco de redenção de maneira mais silenciosa, mas profunda. Já Lewis Pullman, como Bob, é o verdadeiro coração do filme. Um personagem novo, sem superpoderes ou passado heroico, mas com uma carga emocional que rouba a cena em vários momentos.
Estética fria, mas com propósito
Um dos aspectos mais comentados foi o visual do filme. Thunderbolts aposta em uma fotografia mais fria, com tons acinzentados e sombras marcantes. Para alguns fãs, isso causou estranheza — especialmente para quem espera o colorido vibrante típico da Marvel. No entanto, essa escolha faz sentido. O visual acompanha o estado emocional dos personagens: contido, melancólico, quebrado.
Essa abordagem visual ajuda a reforçar o clima mais dramático e introspectivo da história, e embora divida opiniões, é uma decisão artística coerente.
A resposta do público: surpresa e alívio
É interessante observar como o público reagiu. No Rotten Tomatoes, Thunderbolts atingiu cerca de 85% de aprovação, com muitos críticos destacando o tom mais maduro e humano do filme. Entre os fãs, a palavra mais usada tem sido “surpresa”. Ninguém esperava que justamente esse grupo de “refugos” do MCU fosse entregar uma das experiências mais emocionantes da fase atual.
E esse é talvez o maior mérito do filme: ele não tenta ser grandioso — tenta ser verdadeiro. E em tempos de saturação de efeitos especiais e batalhas interdimensionais, isso faz toda a diferença.
Nem todo herói salva o mundo. Às vezes, ele só tenta não se perder
Ao final da sessão, o que fica não é uma explosão, nem uma cena pós-créditos que promete o próximo vilão. O que fica é o silêncio. A sensação de ter visto algo mais próximo da vida real do que da fantasia. Thunderbolts é um filme sobre segundas chances, sobre carregar cicatrizes e, principalmente, sobre a possibilidade de mudar — mesmo quando o mundo insiste em te definir pelo passado.
Não é o filme mais épico da Marvel, nem o mais divertido. Mas talvez seja o mais necessário neste momento do estúdio. Porque nos lembra que ser herói não é sobre ter superpoderes — é sobre ter coragem de seguir em frente, mesmo quando tudo desmorona.